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Porque Devemos Caminhar com Nossos Filhos

As crianças gostam de caminhar, e adoram caminhar conosco. Nós nem sempre percebemos como as caminhadas que fazemos juntos são preciosas, e como guardam chances de momentos lindos e futuras memórias de amor. Caminhar junto pode ser o único momento sem distrações eletrônicas que temos com nossas crianças e pode ser a hora do dia em que nossos filhos abram seus pequenos corações, e nos falem de sua vida e suas descobertas.

Especialmente a partir dos dois anos, as crianças adoram uma boa caminhada. Foi nessa idade que eu comecei a caminhar com meu filho, e a testemunhar sua alegria quando podia, sem pressa, subir e descer dos degraus, correr pelas rampas e pular nos desníveis da calçada. Hoje, quando caminhamos juntos, eu escuto sobre os amigos da escola e o que lhe agrada e revolta, e que ele não diz quando estamos parados ou ocupados com nossos afazeres domésticos.

Montessori nos ensina a caminhar com nossos filhos:

[a criança] caminha com uma finalidade totalmente diferente da nossa. O adulto anda para chegar a uma meta externa e segue diretamente para ela; além disso, tem no passo um ritmo já estabelecido, que o transporta quase mecanicamente. A criança anda para elaborar suas próprias funções e, portanto, tem um objetivo criativo por natureza. É lenta e ainda não possui um ritmo de passadas ou uma finalidade. Sente-se, porém, atraída pelas coisas e abrir mão de seu próprio ritmo, de sua meta.

Maria Montessori, em A Criança

Caminhar devagar, desviar do caminho, se perder um pouco do destino, esquecer o que viemos fazer na rua… e achar a rua, achar o caminho, nas pegadas de nossos filhos, nos passos da criança. Essa talvez seja uma das formas belas de cumprir a sugestão de Maria Montessori: “Siga a criança”. Ao caminhar junto, nós podemos seguir.

Quando caminhamos com nossos filhos, não caminhamos para chegar. Então esperar é possível, sentar-se na calçada para olhar qualquer coisa no chão é permitido. Encostar na parede enquanto eles sobem e descem nas rampas e nas escadas das casas é permitido. Correr é permitido. E andar muito devagar também é.

O que vale é a mágica.

E ai, depois de alguns metros, se nossos filhos são um pouco maiores, quatro, cinco anos, eles começam a falar, e nós podemos conhecer o que era escondido pelo correr da vida. Contam do que gostam e o que lhes alegra, falam dos desgostos e das tristezas, e perguntam muito. Perguntam sem fim. Mais do que responder, essa pode ser nossa chance de conversar.

Nós talvez tenhamos nos habituado a observar as crianças e aprender com seu comportamento. Mas aí temos outra chance: ouvir a criança e aprender com suas histórias. Descobrir seus interesses se torna possível, porque elas param para uma flor, um inseto, um carro, uma pessoa.

Caminhar abre caminhos. Caminhos para a convivência, o afeto, a comunhão e a união mais profunda entre pais e filhos. Mas para isso precisamos caminhar para caminhar. Não para chegar. O que vale é o passo que estamos dando, nas pegadas de nossos filhos. Seguindo a criança – ainda que ao seu lado. Seguindo a criança, como quem segue a primeira estrela, nós vamos conhecer a verdade da vida, e ela nos libertará – a nós e nossos filhos.

Gabriel Salomão

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